Um IXP (Internet Exchange Point) é um ponto de intercâmbio que permite a interligação de redes autónomas bem como a troca de tráfego de dados e conteúdos entre elas
O acesso à internet
Começando por uma representação conceptual simples do que é o acesso à internet para o utilizador, vamos supor 4 provedores de internet (ISP – Internet Service Providers) Mocivel, Utinel e VTBaco e PAZ Fibra. Estes 4 provedores vendem acesso à internet para os seus clientes mas são eles também clientes de outros provedores maiores a quem pagam trânsito para ter conectividade à “internet”.
Considerando comunicações internacionais por fibra óptica e ignorando a rede de acesso o tempo de “viagem” dos pacotes (latência/delay) desde o utilizador à maior parte do conteúdo é em média de 90ms em cada sentido para um total de 180ms. A latência é um dos factores de grande impacto na percepção de velocidade e qualidade de internet.
E se eu quiser falar com o meu vizinho?
Mas o que acontece se um cliente da Mocivel quiser se comunicar com os clientes Utinel ou VTBaco?? Ou um filme da PAZ Fibra?
Está claro pelo desenho que, sem uma ligação alternativa entre os diferentes provedores o tráfego entre clientes que podem até ser vizinhos vai ter que dar a volta ao mundo. E o pior de tudo é neste caso os tempos de latência serão ainda piores que no caso anterior com o dobro do caminho a percorrer. Serão 180ms unidireccional e 360ms de bidireccional.
A solução pode passar pela ligação directa entre os provedores que acharem que tem necessidade de trocar trâfego fazendo acordos de peering ou mesmo ligarem-se todos uns aos outros.
Mas e o que acontece quando entrarem mais 2, 3 ou mais provedores para o mercado? A famosa malha completa (full mesh) em que cada provedor tem que ter uma ligação para cada um dos outros provedores e o número total de ligações seria de n(n-1)/2 (n = número de provedores).
Grande confusão!! Já dá pra ver a ideia né???????
Venha o IXP
É assim que penso num IXP. Uma “internet local”. Voltando à definição no princípio do post:
Um IXP (Internet Exchange Point) é um ponto de intercâmbio que permite a interligação de redes autónomas bem como a troca de tráfego de dados e conteúdos entre elas.
A existência de um IXP em determinado paíz ou região torna possível que a comunicação entre as redes (não só de provedores) se faça por ligações locais únicas de latência muito menor. As ligações locais, além de mais “rápidas” são também mais baratas permitindo redução dos custos operacionais dos provedores, empresas, instituições que se ligarem aos IXP.
Mas o Facebook e o Youtube não estão em Angola!
De facto, os grande provedores de serviços e Datacenters com conteúdo não estão em Angola. Os sites criados pelos curiosos não estão em Angola. A maioria dos sites das empresas angolanas não estão em Angola. Se calhar até alguns sites de empresas e instituições públicas angolanas não estão em Angola.
Então para quê me ligar aos provedores angolanos se 99% do meu tráfego é internacional?
Bom, neste caso trazemos a internet para Angola. Os gestores dos IXP fazem parcerias com empresas que têm a informação que procuramos e estas trazem para cá servidores para entregar o conteúdo localmente. Google (=Youtube), Facebook (=Instagram), Whatsapp, Netflix, Akamai,Cloudflare, Amazon (as últimas 3 são CDN‘s) são exemplos de empresas que muito nos beneficiariam se tivessem conteúdo cá em Angola.
Com este conteúdo alojado em Angola a troca de mensagens, imagens, vídeos, chamadas de voz seria um flash.
Angola
Tudo muito bonito mas temos algum IXP em Angola? E se há, vale a pena estar ligado a um deles? Sim e Sim. Na verdade, 2 x Sim e Sim.
Apesar do grande marketing da Angola Cables e do Angonix já existe em Angola um IXP desde 2006.
O ANG-IXP, gerido por membros da AAPSI (Associação Angolana de Provedores de Serviços de Internet), beneficiou de uma reestruturação recente e tem a ele ligados 16 membros. Em 2009/2010 o acordo com a Google permitiu a instalação em Angola de servidores Google Global Cache (GGC) permitindo acesso local aos vários serviços da google, Youtube incluído.
O Angonix começou a sua operação em 16/Março/2015, tem 11 membros e várias parcerias com provedores de conteúdo e CDN’s. Embora não haja detalhes exactos de quais são estes parceiros o Angonix apresentou no fórum estatísticas de tráfego de 3.1 Gbps de média mensal e 4.4 Gbps de pico tornando-o no 3º maior IXP de África (considerando o pico) atrás do NIXP (Nigeria) e NAP of Africa (Africa do Sul). Interessante é que se considerássemos a média de tráfego o Angonix está de facto em 2º lugar atrás do NAP of Africa.
E o futuro? Continuarão a existir os 2 IXP? Há realmente necessidade de termos em Luanda 2 IXP? Não serei eu a responder estas perguntas.
Artigo originalmente escrito por Mário Pinho e pode ser encontrado no seu blog: mariopinho.com , republicado aqui com a autorização do autor.
Muito bom, obrigado pelo conteúdo.