Um Natal sem consoada com a família alargada, sem as farras nos quintais, sem a Missa com o beija-menino. Uma passagem de ano sem o reveillon, a boda riga que começa às 19, interrompe para o kandandu da praxe e segue madrugada adentro “até o sol raiar” como disse o artista… quem imaginaria possível? Se alguém pintasse esse cenário em Dezembro de 2018, seria tido por maluco, candidato a uma férias no kubiku do Papá Kitoko.
Mas foi exactamente o que aconteceu. De Dezembro a Dezembro veio o coronavírus e o seu “kaxíku” Covid 19 e a quadra festiva foi esse impensável: ficar em casa e cada um cada qual.
Foi aí que a literacia digital adquirida à força nos meses anteriores apareceu como a tábua de salvação de toda a gente. Entre as mensagens via sms que já eram da praxe antiga, juntou-se um uso massivo das redes sociais para driblar o isolamento: videochamadas ao invés das visitas, beijinhos e abraços, memes de boas festas a substituir os presentes, filmes através do telemóvel de umas desbundas de kaxêxe enviados aos parentes e amigos distantes a mostrar que as dobradiças ainda estão em dia para o a umbigada do semba num futuro que a esperança teima em manter presente.
As novas tecnologias de informação e comunicação proporcionaram o drible e fizeram a festa. Sociologicamente falando, instituíram um novo normal na forma de viver esta quadra festiva da mesma forma que o fizeram nas várias outras esferas da vida desde que esta pandemia começou. E tudo incida que assim será num futuro sem previsões de término.
Isso remete-nos a duas lições: a primeira que será avisado a toda a gente abraçar o digital e conformar a vida a ela. Não vale a pena resistir à substituição incómoda que o virtual vem fazendo do presencial. É inevitável! E tudo indica que, aquelas pessoas, instituições e países que mais rapidamente se assenhorearem desta realidade, mais vantagens recolherão “do novo Mundo que vem aí” como cantou o saudoso Waldemar Bastos.
A segunda lição, tão importante quanto a primeira porque a complementa, é que é preciso um investimento deliberado, planeado e massivo na infra-estrutura digital do País. Sem dados para aferir o grau de aumento do uso das TICs durante a quadra festiva – é notório que subiu exponencialmente pelas razões apontadas acima – já dá para notar dificuldades até no serviço de empresas de redes de telefonia móvel que antes não aconteciam. É lenta a Net, caem as ligações, as sms não passam, baixa a qualidade do áudio das chamadas, enfim, todos os sinais de saturação das redes devido ao congestionamento. E isso, hoje por hoje, já se conota com indicadores de atraso tecnológico e de vida.
Atraso tecnológico porque como já dissemos noutras ocasiões, tudo se faz no virtual por via das TICs: de teletrabalho a cimeiras de Chefes de Estado. E atraso de vida porque, não podendo as pessoas ficar em casa para fazer o seu trabalho vão ter que sair, romper o isolamento físico e social necessário para o controlo da pandemia e o resto já se está a adivinhar: aumento dos casos que, por sua vez uma maior exposição à pandemia, um círculo vicioso que Angola, melhor que a maior parte dos países do Mundo vai conseguindo cortar (nada a ver com a nossa megalomania habitual; desta vez os números falam a nosso favor, o que não significa abaixar a guarda nem tirar o pé do acelerador).
É por essa razão que deve-se dar ouvidos e prestar atenção de forma prioritária às parcerias internacionais que sejam portadoras de soluções tecnológicas para cobrir o gap da literacia digital e que possam investir na infraestrutura das TICs no país. Até lá, alguns passos concretos em fase de execução pelo executivo devem sofrer uma acelerada, como dizem os brasileiros. Refiro-me à linkagem, ainda que em sistema de rooming, entre as antenas das duas operadoras privadas de telefonia celular que temos. Não faz sentido e é urgente que uma antena da UNITEL possa também emitir o sinal da Movicel e vice-versa. Para que não tenhamos o espectáculo de desperdício de duas antenas na mesma área, cada uma com gerador e guarda, e a gastar combustível e lubrificantes quando podia ser uma só e as duas ganharem mais até. Isso aumentaria sobremaneira a cobertura do sinal para o país que ainda possui grandes pedaços sem cobertura de rede.
Há também que investir na actualização da tecnologia das TICs em uso no país. Estamos na era da 4ª Revolução Industrial, da computarização e robotização de quase tudo na vida. Não vamos a lado nenhum com tecnologia a lembrar o analógico. Não só é um atraso de vida como nos isola da aldeia global que este Mundo cada vez mais se vai transformando.
Artigo escrito por Celso Malavoloneke , publicado no MenosFios com a autorização da sua assessoria de imprensa.