O lado oculto das aplicações móveis

Os números são expressivos. Os utilizadores de smartphones Android têm, em média, 35 aplicações instaladas nos seus dispositivos, segundo dados da empresa DuckDuckGo.

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A maioria das aplicações que tem instaladas no smartphone usam rastreadores – pequenos pedaços de software que recolhem, várias vezes ao dia, dados como a localização, o endereço de e-mail, nome próprio e até informações técnicas do dispositivo como o nível da bateria. São dezenas as empresas com acesso ao seu telemóvel e das quais provavelmente nunca ouviram falar.

Os rastreadores (trackers no original em inglês) são pequenos pedaços de software (o nome técnico é kits de desenvolvimento de software, SDK na sigla em inglês) que fazem parte das aplicações móveis e que recolhem informações do smartphone do utilizador.

Há diferentes tipologias de rastreadores: uns técnicos, mais ligados à analítica e análise de desempenho das aplicações, para perceber quantos utilizadores estão online ou como e quando a app deixa de funcionar; outros mais ligados à perfilagem, nos quais os dados são recolhidos para direcionamento de anúncios online; e outros mais de experiência e interfaces de utilizador (UX e UI), que analisam o comportamento da pessoa numa app para ajudar a otimizar o uso da aplicação ou criar novas funcionalidades.

Os números são expressivos. Os utilizadores de smartphones Android têm, em média, 35 aplicações instaladas nos seus dispositivos, segundo dados da empresa DuckDuckGo. E isto significa entre mil a duas mil tentativas de rastreamento, por dia, por mais de 70 empresas, de acordo com a mesma tecnológica.

Este é o lado oculto do seu smartphone – um que está em constante funcionamento, mas do qual os utilizadores não têm grande conhecimento. E quanto mais aplicações tiver, mais caótico é o cenário.

Isto significa que quando instala uma aplicação no smartphone, não está a dar acesso ao seu dispositivo apenas a uma empresa – nessa aplicação existem, muito provavelmente, um ou mais rastreadores de dados, de várias outras empresas das quais nunca ouviu falar, ainda que esta informação não seja transmitida da forma mais clara e transparente aos utilizadores. Motivo que levou inclusive a Apple a lançar, em 2021, um sistema de bloqueio para rastreadores de publicidade.

Que informações são recolhidas?

Tão surpreendente como o número de rastreadores que existem nas aplicações instaladas no smartphone poderá ser a quantidade e variedade de dados às quais tentam aceder. Alguns rastreadores pedem o acesso a mais de 30 informações distintas.

Há pedidos de acesso a dados pessoais como: nome próprio do utilizador, endereço de e-mail e género –, outros de dados técnicos do smartphone – como o modelo do telemóvel, resolução do ecrã e versão do sistema operativo e também de informações de geolocalização como coordenadas GPS, código postal e cidade no qual está o utilizador. Há inclusive aplicações que pedem para saber dados do processador (CPU) do telemóvel, o nível de volume do smartphone ou a própria quantidade de bateria disponível.

Mas há uma categoria de dados que muitas aplicações pedem e que têm um maior impacto ao nível de privacidade – os chamadores identificadores únicos. Estes são os códigos (chamam-se IDFA nos dispositivos iOS e ID de publicidade nos dispositivos Android) que identificam o utilizador aos olhos das empresas que desenvolvem as aplicações ou os rastreadores. Havendo o acesso a estes identificadores, pode ser construído um perfil de dados, atividades e utilizações de cada pessoa.

Como limitar os rastreadores

Ao contrário do iOS, o sistema operativo Android não tem, de base, um sistema que permita bloquear os rastreadores das aplicações. Está a ser testado, com o nome Privacy Sandbox Android, mas ainda está em fase ‘beta’ e apenas limitado ao sistema operativo Android 13.

Mas se tem um dispositivo Android, para saber que aplicações usam rastreadores, quantos e quais, recomendamos a instalação da aplicação DuckDuckGo. Este navegador de internet (browser) tem uma funcionalidade chamada App Tracking. Quando ativada, permite não só bloquear os rastreadores, como saber quais são e as tipologias de dados às quais acedem.

O DuckDuckGo usa uma rede privada virtual (VPN) no próprio smartphone para intercetar o tráfego das aplicações instaladas e bloqueia os pedidos de informação que são feitos por domínios identificados como rastreadores de terceiros (third party trackers), isto é, domínios detidos por empresas diferentes daquelas que são as donas da aplicação em causa. Para ativar, basta abrir o browser e Abrir Menu > Definições > Proteção contra o rastreamento por aplicações e ativar a funcionalidade.

A Apple lançou, em 2021, uma funcionalidade para os sistemas operativos iOS e iPadOS chamada App Tracking Transparency (ATT na sigla em inglês, rastreamento transparente de aplicações, em tradução livre). Este sistema obriga a que o utilizador tenha de conceder uma autorização específica para que uma aplicação possa fazer a monitorização noutra aplicação (p. ex., Facebook aceder aos dados do Google Maps).

Uma decisão da Apple que provocou um pequeno terramoto no mundo da publicidade digital (com menos dados, existe menor capacidade de personalizar a publicidade). Importante este mecanismo da Apple só impede o acesso ao IDFA, o identificador de publicidade dos iPhone e iPad. Para activar, aceda a Definições > Privacidade e segurança > Seguimento. Toque para desativar ou ativar a permissão de seguimento no sistema operativo, ou escolha a opção para aplicações específicas. Após ativado, sempre que uma app quiser fazer a monitorização de dados noutra app, surgirá uma notificação no ecrã. Basta depois carregar em “Pedir à aplicação para não seguir”.

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