Nove em 10 bancos centrais estão a explorar as moedas digitais, revela um inquérito do Banco de Compensações Internacionais (BIS), sediado em Basileia, que mostra que mais de um quarto dos bancos centrais estão a desenvolver projectos-piloto e mais de dois terços são susceptíveis de emitir uma moeda digital a curto e médio prazo.
O estudo, que conta pela primeira vez com a participação do Banco Nacional de Angola, actualiza inquéritos anteriores e conta com 81 bancos centrais, 16 dos quais africanos, ou seja mais 25 do que os 56 que responderam em 2020. As respostas mostram que a pandemia da Covid-19 e a emergência de criptomoedas aceleraram o trabalho sobre as moedas digitais dos bancos centrais (CBDC, na sigla em inglês), com os bancos centrais a serem movidos por razões relacionadas com a eficiência dos pagamentos transfronteiriços.
Ao todo, cerca de 20% estão a desenvolver ou a testar uma CBDC de retalho, concebidas para serem utilizadas pelos consumidores, que é o dobro do número de bancos centrais que trabalham numa moeda digital por grosso, que se destina a ser utilizada pelos bancos. Em todo o mundo, os bancos centrais estão a explorar activamente os CBDC à medida que as economias procuram reforçar os seus pagamentos digitais e infraestruturas bancárias.
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“Muitos estão a explorar um ecossistema de CBDC que envolve a colaboração do sector privado e a interoperabilidade com os sistemas de pagamento existentes”, sintetiza o BIS, numa sumula do inquérito, que foi distribuído aos bancos centrais em Outubro de 2021. As respostas foram recolhidas em Dezembro, para tratamento e os resultados foram divulgados no início de Maio.
O BIS (banco detido por 63 bancos centrais que representam 95% do PIB mundial) revela que, em 2021, novas CBDC foram lançadas, a eNaira, da Nigéria, e o Sand Dollar, das Bahamas. Caraíbas Orientais e a China também lançaram versões-piloto das suas moedas digitais, o DCash e a e-CNY, e o Banco Central da Tanzânia já tem técnicos a aprender com a Nigéria para lançar a sua moeda.
Segundo o Coin Desk, portal especializado em criptomoedas, “a China assumiu a liderança no desenvolvimento e teste de um yuan digital e alguns governos em todo o mundo também encaram as CBDC como um trunfo na sua soberania monetária”, além de contribuírem para a melhoria da inclusão financeira e a aceleração das transferências transfronteiriças.
O ano de 2021 foi também caracterizado pelo forte crescimento dos cryptoassets (activos digitais privados com a sua própria unidade de conta, como a Bitcoin e a Etheneum) e o mercado de stablecoins (moedas estáveis, categoria de criptomoedas, cujo valor está ligado a um ou mais bens). Isto estimulou a colaboração entre bancos centrais para monitorizar as implicações destes activos e para coordenar abordagens regulamentares para conter os seus riscos para o sistema financeiro.
Segundo o Banco da Basileia, no final de 2021, as moedas estáveis constituíam uma proporção relativamente pequena de moedas criptográficas – com uma capitalização de mercado de 175 mil milhões USD, um pouco mais de 6% acima do valor de todas as moedas criptográficas. As jurisdições dos bancos centrais que responderam ao inquérito representam 76% da população mundial e 94% da produção económica global. Vinte e cinco dos inquiridos estão em economias avançadas e 56 em mercados emergentes e economias em desenvolvimento. De África responderam 16 bancos centrais: África do Sul, Angola, Cabo Verde, Congo, Egipto, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Marrocos, Moçambique, Namíbia, Seicheles, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué.