Quando me sentei para começar a descrever Dishonored tive uma imensa dificuldade em saber por onde começar e então decidi começar por aí mesmo. Dishonnored é um jogo que foge facilmente a classificação habitual dos jogos pela forma como mistura tantos estilos diferentes. Talvez se possa o definir como um Stealth Game porque afinal é sem menor duvida esse o factor mais presente no jogo, não fossemos nós um assassino neste jogo.Também o podemos o considerar um First Person Action Game (porque é um jogo com visão na primeira pessoa e que envolve muita acção) ou mesmo um RPG (porque temos que ir evoluindo a nossa personagem). A verdade é que como referi Dishonored é um daqueles jogos que escapa á descrição convencional. Mas será que o jogo é bom?
A mecânica do jogo está sem duvida brilhante, misturando vários géneros de uma forma muito bem conseguida deixando quase totalmente á escolha do jogador que estilo de jogo pretende jogar. Neste jogo existe sempre mais do que uma maneira de atingir os teus objectivos, tanto podes usar stealth para eliminares os teus adversários um a um, como podes os atacar cara a cara tal como até passar por tudo e por todos sem alguma vez seres visto. E mesmo quando decides que estilo utilizar tens varias opções de como os usares, com stealth podes decidir matar ou não os teus adversários, no combate podes decidir se optas por usar magia negra ou simplesmente usares as tuas armas e se quiseres passar sem ser visto podes desde possuir um rato e usar o túneis de ratos para alcançar outras zonas como podes usar ferramentas tão simples quanto atirares garrafas para distrair os guardas até mesmo usar flechas com veneno para os adormecer. A isto tudo adiciona-se os factos de nunca existir apenas um caminho possível para os teus objectivos e o de existir sempre mais do que uma opção para te livrares dos teus alvos que aumentam bastante a longevidade do jogo. Mas quando escolhes um método não és obrigado a segui-lo sempre, podes decidir passar uma certa rua a base da pancada e logo na rua seguinte decidir que estás cansado e não queres lutar e portanto arranjas uma forma de passar por ela sem ser visto.
Infelizmente os adversários têm um nível de inteligência bastante baixo, constantemente virando-se para paredes para fazer lá o quê, sendo incapazes de investigar alterações ao cenário como por exemplo portas abertas que deviam estar fechadas e trancadas, tendo comportamentos bastante mecânicos em reacção as nossas acções. O combate é fácil, Corvo (quem nos controlamos neste jogo) é que assassino sobrenatural a lutar contra simples homens. Eu lembro-me de uma vez durante o jogo eu ter sido apanhado quando estava a tentar não ser visto e ter tido 5 ou 6 adversários ao mesmo tempo a atacarem-me (sim fui visto na pior altura possível) e ter conseguido eliminar todos sem grande esforço, clicando apenas em alguns botões e sem sequer sofrer um arranhão. Isto deve-se também em grande parte ao facto que o comportamento dos adversários nunca muda, o que não ajuda nada ao baixo número de adversários diferentes e ao facto de eles serem todos fotocopias um dos outros. Eu já sei que o policia vai ficar a disparar a usa pistola de longe, que o corpulento de roupa cinzenta vai atacar-me com a espada dele, sempre com o mesmo ataque, e já sei que os “zombies” vão tentar agarrar-me… e por ai a fora. Cada inimigo parece só ter um ataque disponível, o que aliado ao facto de se poder eliminar a maioria deles com um click de um botão torna o combate um pouco aborrecido passado algum tempo.
Em termos de apresentação Dishonored apresenta-nos o melhor e o pior que os jogos têm para oferecer. O clima do jogo é muito bem conseguido, levando-nos a uma cidade única fortemente inspirada em Londres do final do século 19, mas profundamente decadente devido á praga que a aflige. Um detalhe muito agradável de se ver é os opostos na cidade. Nas zonas mais pobres os corpos das vítimas da praga espalhados pelas ruas por entre o lixo e os escombros enquanto nas partes mais ricas da cidade está tudo limpo e verde como se nada tivesse a acontecer na cidade. Um detalhe que ajuda-nos a fazer emergir neste mundo é o excelente uso de luzes e sombras neste jogo, conseguindo criar momentos muito bons visualmente. O que não ajuda no entanto são os pixéis, os muitos pixéis altamente visíveis a olho nu. Para piorar os detalhes de quase tudo foram bastante descuidados, a roupa das personagens parece ser a pele delas, os dedos parecem salsichas e até agora não me consegui sentir ameaçado pelas espadas que parecem não ter gume. O resultado final é uma cidade unicamente interessante, com um excelente jogo de luz a tentar disfarçar a guerra de pixéis perante os nossos olhos.
O som do jogo é também um factor de extremos. O som ambiente é mal aplicado e repetitivo, por exemplo se tens um “zombie” um andar abaixo de ti tu o ouves quase como se tivesse ao teu lado e tu sabes que é um “zombie” porque eles todos fazem exactamente o mesmo som. Alias tudo faz exactamente o mesmo som, os guardas têm sempre a mesma voz, as portas, os cofres, a água, os “cães”, todos fazem o mesmo som onde quer que estejam. Varias personagens ao falarem demonstram uma quase total falta de talento dos seus actores, falam de forma mecânica e forçada, não só pouco natural como muitas vezes doloroso de se ouvir. No entanto muitas personagens são magníficas em termos de voz, não fossem tantas estrelas do cinema e televisão emprestarem-lhes a sua voz. Susan Sarandon (a vencedora de oscar de Thelma & Louise e Dead Man Walking), Brad Dourif (Wormtongue de Lord of the Rings), Carrie Fisher ( Star Wars), John Slattery (The Adjustment Bureau e Mad Men), Michael Madsen(“Mr. Blonde” de Reservoir Dogs), Chloë Grace Moretz(Hit-Girl de Kick-Ass) e Lena Headey (300 e Game of Thrones). São as estrelas contratadas, embora algumas delas façam a voz de personagens muito pouco significativas.
A história do jogo é aborrecida a maior parte do jogo. Embora seja uma história essencialmente da ambição política do ser humano e até onde alguns conseguem chegar para obter poder. A história tem muitos pontos bastante mal explicados e não consegue motivar o jogador. Esta motivação vem do próprio sistema do jogo, não sendo criado qualquer tipo de ligação emocional com o que estas a fazer durante grande parte do jogo. Para além disso, a historia tem vários momentos em que as personagens demonstram o mesmo nível de inteligência que os inimigos que já referi mais acima, como por exemplo não entendi porquê é que logo ao inicio quando eu estava a conter os atacantes todos, a princesa e a imperatriz simplesmente não fugiram para onde estavam os guardas, é que não existia mais ninguém para as atacar tão entretidos que estavam comigo… Não que a historia não tenha os seus bons momentos, existe sem duvida pelo menos uma ou duas coisas que eu não estava a espera, mas nessa altura o meu interesse pelo que estava a acontecer já estava tão dormente que me afectou muito pouco. Talvez o único ponto positivo na história é que as tuas acções e decisões afectam a cidade. Quanto tu mais matas e destróis mais influencias negativamente o mundo a tua volta, os corpos que deixas para trás trazem mais ratos que por sua vez criam mais infectados (AKA “zombies”) e mais tu influencias de forma sanguinária outras personagens da história. Mas fica por ai o teu verdadeiro controlo sobre a história, apesar de tomares muitas decisões sobre o que fazer (como por exemplo matar a amante do novo regente ou a entregar a um homem que a ama e que a vai levar para bem longe como sua prisioneira) estas afectam pouco o mundo a tua volta, sendo que a quantidade de pessoas que matas o que decide como a história se desenrola.
No final Dishonored é um jogo de extremos, fantástico e péssimo ao mesmo tempo, mas acima de tudo é inovador e único, levando-me a desejar que exista um Dishonored 2 já o próximo ano. Pelo facto de ser tão versátil o jogo é recomendável a muitas pessoas, principalmente sem dúvida as pessoas que gostam de stealth games (existem poucos recentemente). Mas não é um jogo que faça a maioria dos jogadores gritar “eu tenho que ter esse jogo” embora mereça ser pelo menos experimentado nem que seja pelo prazer de jogar algo tão versátil e único, apesar dos muitos defeitos.