Artigo enviado por Alvaro Oliveira. Quer partilhar conhecimento com os demais seguidores do MenosFios? Siga os passos.
Por razões profissionais e pessoais sempre fui um utilizador intensivo de internet em Angola. Qualquer que seja o operador utilizado, o acesso à internet é de facto caro neste País. Muitas vezes pensei como seria difícil aos cidadãos de baixa renda pagar este acesso. E como isso poderia ter um impacto negativo nas suas vidas.
A organização A4AI (“Alliance for Affordable Internet”), no seu relatório de 2017 define “internet acessível” quando alguém não paga mais do que 2% da sua renda para ter 1GB de tráfego de internet. A designada regra “1 por 2”. Olhando para os tarifários disponíveis no mercado Angolano, 1 GB de tráfego de internet custará cerca de 22 USD, acima da média africana (17,5 USD em 2015). Cruzando o PIB per capita com a regra “1 para 2”, 1GB não deveria custar mais do que 10 USD/mês. Portanto o desafio será aproximar os tarifários às reais capacidades financeiras dos Angolanos.
O “Livro Branco das TIC” publicado pelo Governo de Angola em 2011 de forma inequívoca identifica o acesso à internet como acelerador do desenvolvimento social reduzindo a pobreza e a exclusão. Mas como fazer disto uma realidade?
A solução passa por uma equilibrada combinação de concorrência e cooperação entre os diversos “stakeholders” do mercados das Telecom em Angola. Contraditório? Talvez não!
Competição deverá significar a criação de condições aos Operadores de menor dimensão ou entrantes alarguem a sua base de clientes, sem forçadamente canibalizar a base existente mas trazer novos clientes.
Incentivos fiscais podem ser um mecanismo eficiente para os que levam os seus serviços a zonas mais remotas do País. Custos de transmissão e de interconexão permitirão os Operadores de menor dimensão terem planos de negócio viáveis. Igualmente, estes Operadores consomem grande parte do seu capital de investimento em infraestruturas, quando estas já existem.
Recentemente o Actual Governo, através do seu Ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, deu explicitas indicações aos Operadores quanto à necessidade de partilharem infraestruturas (fisicas, redes de fibra ópticas, energia) como forma de rentabilizar o capital de investimento disponível e acelerar a chegada dos serviços às zonas rurais do País.
A cooperação entre os Operadores tem de ser efectiva. Angola conta hoje em dia com diferentes redes nacionais de fibra óptica que devem ser partilhadas limitando novos investimentos redundantes e e optimizando custos de manutenção. Redes WIFI partilhadas em locais como campus universitários, serviços públicos e bairros mal servidos permitem a expansão mais rápida destas redes, disponibilizando aos utilizadores internet a custos acessíveis.
A aposta de Angola na introdução das Redes 4G/LTE deve ser intensificada, Apesar dos custos de investimento associados, no longo prazo o LTE tem um “custo por bit” mais baixo que outras tecnologias.
A redução das tarifas de conexão internacional têm de continuar o caminho iniciado quando o cabo submarino WACS começou a oferecer os seus serviços. A propósito, a Angola Cables é um excelente exemplo de cooperação entre operadores. Em breve será colocada ao serviço um novo cabo, ligando Angola ao Brasil e EUA. Estes investimentos em conjunção com os serviços IXP já disponíveis de certeza irão dar um contributo decisivo para uma internet e conteúdos mais acessíveis a todos os Angolanos.
Sem esquecer a importância do satélite Angolano, o Angosat, com lançamento para breve e que dotará Angola de meios próprios neste segmento tecnológico para a difusão de serviços broadcasting e internet.
Apesar um quadro económico ainda desfavorável há razões para acreditar que as ICT em Angola vão continuar a sua expansão e levar os seus benefícios a cada vez mais Angolanos.