O ecossistema tecnológico africano apresentou um crescimento no ano de 2022, mesmo com a crise económica global e de um abrandamento dramático no panorama do capital de risco, revelou o mais recente relatório da empresa de capital de risco Partech Partners.
Segundo o estudo feito pela instituição sediada em Paris, França, houve um crescente acesso das startups no continente ao financiamento da dívida, o que mostra definitivamente um “sinal de maturidade das empresas africanas em fase de arranque“.
Denominado “Africa Tech Venture Capital 2022”, a investigação mostrou que o financiamento do sector africano, nas suas várias componentes cresceram 8%, para 6,5 mil milhões USD, com 764 negócios. Decompondo, o financiamento através da dívida mais do que duplicou (102%) enquanto o financiamento, via capital próprio, baixou 6%.
As startups do continente africano angariaram cerca de 1,6 mil milhões USD em 71 contratos em 2022, o que sugere que a dívida tornou-se uma fonte alternativa de capital para as tecnológicas africanas em fase de arranque, compensando a descida de financiamento (-6%), com capital próprio, para 4,9 mil milhões USD e 693 negócios.
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O Quénia foi o país com mais pedidos de dívida aprovados, com quase 40% do montante total angariado em 15 negócios, enquanto a Nigéria recebeu a maior parte do financiamento por capitais próprios, recebendo 1,2 mil milhões USD, um declínio de 36% face a 2021.
“Claramente, as forças profundas que impulsionam o crescimento do ecossistema tecnológico africano prevaleceram contra os ventos contrários“, sublinha a Partech Partners, frisando que o recurso à dívida é uma tendência que deverá manter-se à “medida que o abrandamento económico torna o financiamento com capitais próprios mais caro e insustentável, a longo prazo“.
O sector tecnológico, pelo que pode ver-se no estudo, foi “um dos muito poucos, se não o único, mercado de capital de risco a gabar-se de crescimento” em 2022 e em contraciclo com o que se verificou, a nível global, em que “o financiamento de capital de risco diminuiu 35% no mesmo período“.
No entanto, olhando atentamente para os números, este mercado não foi deixado incólume, salienta o relatório.
“Podemos ver que o abrandamento começou a infiltrar-se no mercado africano no I trimestre do ano, com uma queda de 14% na atividade em comparação com os últimos três meses de 2021“.
Apesar disso, as startups africanas “ainda fecharam recordes de financiamento” no I semestre do ano. No III trimestre, a “desaceleração começou realmente, com uma diminuição homóloga do número de negócios e do financiamento angariado“.
O relatório revela que foi estabelecido um novo marco com “mais de 1.000 (1.149) investidores únicos” a apostarem em África, “cimentando o crescente interesse global nas startups africanas“. Embora o futuro se mantenha desconhecido numa série de questões, nomeadamente quanto ao impacto da recessão e o impacto da desaceleração nas avaliações, o relatório aponta fatores tranquilizadores, como “uma forte reserva de talentos, um ambiente empresarial resiliente, um acesso omnipresente e a digitalização de sectores-chave“.