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[Entrevista] Wanderley Ribeiro, Co-fundador do CAST

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Wanderley Ribeiro, Co-fundador do CAST

Estamos de volta à secção de entrevistas do MenosFios, com a primeira entrevista de 2013.

E não podia ser mais oportuna a conversa com um dos homens que tem participado em vários projectos para a divulgação de TI em Angola e para o intercâmbio de informação entre os profissionais da área.

O Seu nome é Wanderley Ribeiro e a sua visão sobre a Tecnologia em Angola pode ser vista nesta entrevista.

1. MenosFios(MF): Como é habitual, reservamos a primeira questão para apresentações…

Wanderley Ribeiro (WR): Wanderley Ribeiro, angolano, actualmente trabalho como coordenador para administração de sistemas e gestão de projectos em TI, tecnólogo entusiasta, escritor de artigos técnicos, de gestão de tecnologia e carreira.

2.MF: É conhecido pela Participação em vários projectos na area de IT em Angola, podia citar alguns?

WR: De facto, sempre que possível procuro participar e ajudar iniciativas que promovam a disseminação do conhecimento, a cultura da visão homogénea e acima de tudo ser parte integrante dos esforços envidados pela nossa sociedade na criação de centros de investigação e instituições que nos possam servir de referência de aprendizado para o mercado tecnológico em Angola nas mais diversas matérias. Para citar alguns dos projectos que colaborei e com muito orgulho de tê-lo feito destacam-se o : CAFA, TIangola e mais recentemente o CAST e o APTA, são projectos que me valeram de grande aprendizado, não só do ponto de vista de conhecimento técnico adquirido mas também na ampliação da minha “network” profissional.

3. MF: Falando especificamente do projecto CAFA, em que consistia, quem teve a ideia…?

WR: O CAFA foi um projecto desenvolvido por um grupo de estudantes angolanos residentes no Brasil, na sua maioria da área de tecnologia, e o fruto desta iniciativa teve uma repercussão positiva em Angola. Quando estes começaram a retornar à pátria mãe, foram organizados seminários de tecnologia em várias instituições de ensino, onde a intenção era de um modo geral promover a partilha do conhecimento e desenvolver projectos integrados de tecnologia. O CAFA percebeu que havia grande potencial na nossa comunidade académica, porém alguns membros desta comunidade precisavam de uma orientação, uma mão amiga de apoio e auxilio. Esta iniciativa pretendia abranger todo o sector académico com a prática dos seminários e projectos integrados, uma vez que este sector é dos que mais sofre as consequências da exclusão tecnológica. Este grupo era na altura liderado pelo Eng. Jorge Cipriano, uma figura visionária que tinha consigo na altura uma forte equipa de outros Engenheiros empenhados e totalmente dispostos em passar a mensagem adiante.

4. MF: Há alguma chance desse projecto ser reactivado? Porquê?

WR: A questão é bastante pertinente, mas temo não ser a pessoa apropriada para fazer esta afirmação, com o passar do tempo os integrantes do grupo foram movendo as suas velas para apanharem ventos diferentes, de modos que hoje a motivação poderá não ser a mesma. Acredito que a vontade de prosseguir/reactivar ainda é grande, mas é necessário acima de tudo haver disposição colectiva para que esta seja traduzida em realização. Já la vai algum tempo que não me encontro com os membros da gerência da CAFA, mas acredito que ainda que o projecto não ressurja com o mesmo nome, poderemos nos enquadrar em iniciativas semelhantes com outra denominação.

5. MF: Nos últimos dias temos ouvido falar do projecto CAST . O que é, como surgiu…?

WR: De um modo sintético é uma comunidade de especialistas em tecnologia, o CAST significa Comunidade Angolana de Segurança e Tecnologia. Pretende-se que seja um grupo de debate e análise sobre segurança e tecnologia, o foco inicial era voltado somente para segurança, mas com o tempo percebemos que é fundamental envolvermos os outros elementos da computação e tecnologia para análise. A ideia surgiu através de um amigo, Lohan Spies, um consultor em Segurança de Sistemas, ele gere alguns grupos no LinkedIn e um dos grupos é o Angola Information Security Group onde debatemos juntamente com outros engenheiros e especialistas do ramo sobre diversos temas que apoquentam as empresas e os profissionais, não só em Angola mas no mundo inteiro, contamos também com a fiel ajuda do Eng. Cláudio Gonçalves um dos membros da organização que muito se dedica em prol desta causa.

Foi em meio a um destes debates que decidimos que seria mais produtivo se nos pudéssemos encontrar pessoalmente para explorar melhor os temas, daí passamos a ter encontros presenciais com uma frequência bimensal onde cada um tem liberdade de trazer um tema sugestivo para o debate e compartilhar um pouco da sua experiência, sempre que possível temos alguns convidados especiais, de instituições locais e internacionais, como exemplo posso citar a palestra de um especialista sul-africano que detém o título de Microsoft Certified Master, uma posição de prestígio no programa de certificação da Microsoft e demais convidados, que são pessoas que nós entendemos possuírem experiência útil de ser compartilhada entre os nossos profissionais.

Com isso temos aprendido bastante sobre as competências e as dificuldades dos profissionais em Angola e juntos analisamos os casos que nos são apresentados. Felizmente algumas empresas afiliaram-se ao projecto como é o caso da Integrated Solutions, que disponibilizou o seu escritório em Luanda para os encontros presenciais do grupo e é também uma das patrocinadoras oficiais do CAST. Graças ao esforço e dedicação do grupo e dos nossos patrocinadores, somos hoje já um grupo de 120 profissionais, entre investigadores, engenheiros, gestores, empresários, académicos e etc.

6. MF: Até agora temos conhecimento de 4 encontros do CAST, qual é o próximo passo desse grupo?

WR: A nossa intenção é não estagnar, porque isso é um atributo da descontinuidade, pretendemos envolver os membros do grupo de modos que ninguém se sinta sobrecarregado pois entende-se que cada um de nós tem outras responsabilidades e é necessário haver um equilíbrio entre elas. O sector profissional é o alvo, garantir que o grupo tenha vários profissionais e que haja uma interacção no que diz respeito à promoção de eventos tecnológicos e desenvolvimento integrado de soluções. É também intenção atingir o sector académico, porque nem tudo o que se aprende na sala de aulas é aplicado aqui fora, a intenção é transmitir um pouco desta experiência para os nossos estudantes a fim de prepará-los melhor para o campo e fazê-los perceber que podem contar connosco no que for necessário. Um dos aspectos que temos notado é que alguns dos membros académicos, apresentam-nos a preocupação de não se acharem qualificados para o mercado de trabalho, outros já pensam de forma contrária, e nós na medida do possível ajudamo-los com orientação e até mesmo recomendação para contratação quando é o caso, pois como sabemos a procura por profissionais qualificados é alta, e a oferta nem tão boa assim, de modos que se identificamos estes profissionais no CAST, então fazemos as devidas diligências para que estes sejam bem enquadrados.

7. MF: Acha que o técnicos Angolanos já partilham mais “informações técnicas”?

WR: Obrigado por ter utilizado o termo partilhar, pois acho que é a palavra ideal para classificar o que os nossos profissionais precisam entender. Por um lado, para partilhar é necessário ter, eu não posso partilhar algo que não possuo, por outro lado, a partilha geralmente está associada à necessidade de alguém receber algo, logo, temos aqui os componentes necessários para responder à questão. Eis o que eu acho que acontece, alguns dos nossos profissionais preferem ficar no anonimato pois acreditam que não têm nada de especial para partilhar/oferecer, e os outros que têm bagagem para passar adiante por vezes não o fazem porque não têm meios eficientes para fazê-lo e nem sabem a quem devem fazê-lo, de modos que no final do dia o que acha que não tem nada a partilhar acaba por não sair da posição em que se encontra, e o que tem o conhecimento para partilhar fica com este somente para sí. É necessário haver um elo de ligação entre estas duas personagens que acabamos de representar, é ai que surgem as comunidades de debate, fóruns e instituições de investigação, para promover o encontro destas individualidades, uma vez conciliados estaremos perante às sinergias essenciais para a resolução deste problema. Concluindo, a resposta é não, os nossos técnicos ainda não partilham devidamente nem a técnica e nem a informação.

E digo mais, nós temos em Angola profissionais bastante qualificados, mas que por vezes acabam por deixar que a nossa rotina egocêntrica  e queiram desculpar-me o termo, mas a realidade é que ficamos com a sensação que somente o que nos traz benefícios é que vale a pena, qual é a dificuldade de reservar um dia a cada dois meses ou num semestre para participar de um debate sobre tecnologia? Será que perdemos tanto tempo assim se formos escrever algum artigo sobre um tema que seja do nosso domínio? No meu entender, os profissionais da elite trabalhista (as multinacionais, petrolíferas, etc…) acreditam que devem somente entrosar-se entre sí e o que já é difícil de acontecer. Felizmente estes profissionais têm a possibilidade de desenvolver acções de formação no exterior, em instituições renomadas do campo tecnológico, esta bagagem de conhecimento poderia facilmente ser transmitida à nossa comunidade local, a fim de valorizarmos um pouco mais o nosso sector.

8. MF: Na sua óptica, o que falta para os especialistas Angolanos evoluírem mais nas suas carreiras profissionais?

WR: Humildade e dedicação. Albert Einstein disse uma vez, “A mente que se abre a novas ideias jamais voltará a seu tamanho original”, o nosso problema não é abrirmo-nos à novas ideias, eu até acho que nos abrimos facilmente à elas, o problema é mantermo-nos dedicados, perdemos o momentum com facilidade, se não houver uma corrente de motivação e por vezes um retorno individual e imediato associado à causa, nos desprendemos com facilidade.

É fundamental que os profissionais definam um plano de carreira pessoal, este plano não precisa estar associado à empresa que pertence, ele deve facilmente poder responder às seguintes questões: De onde venho? Onde estou? Para onde vou? Que opções existem? O que tenho que fazer? Estas são algumas das questões que o profissional tem que ter respondidas no seu plano individual, e então alinhar este plano àquele que lhe é proposto pela empresa que trabalha ou então o plano de carreira profissional, se o profissional almeja se tornar um programador de referência, então tem que garantir que as devidas acções de formação e capacidades estão acauteladas no seu plano, e é importante estar atento à rede de contactos profissionais, pois esta ajuda a mantermos-nos dentro do segmento desejado, não adianta muito almejar por uma carreira de sucesso em programação e conviver o tempo todo com técnicos de network (e vice-versa). Tenho visto muitos profissionais se deixarem levar pelas carências do empregador, ou seja, o empregador determina o futuro do seu funcionário enquanto que, esta é responsabilidade do funcionário, perspectivar as metas que pretende alcançar e definir uma estratégia para alcança-las, no final do dia estamos num jogo, onde cada um deve saber ao detalhe quem são os seus aliados e adversários e enquadrá-los da melhor forma na estratégia pessoal.

A humildade aqui diz respeito ao sentimento de união, nem sempre temos que viver num ambiente de competição, há momentos em que é fundamental estarmos unidos, e este sentimento está em carência, é como se estivéssemos inseguros das nossas capacidades, neste caso, partilhar não é opção, pois a partilha pode se transformar em perda, mas a realidade é que o nosso mercado de trabalho é fértil, diariamente as empresas em Angola necessitam recrutar especialistas fora do país a fim de colmatar algumas carências no terreno, logo, é necessário que haja um sentimento de cumplicidade onde passaremos a trabalhar unidos em busca de melhores resultados não só para satisfazer as nossas necessidades e ambições profissionais, mas também para nivelar melhor o nosso mercado.

Tenho visto nos últimos tempos vários grupos e iniciativas de reflexão, fórum e debate, porém, quase não existe interacção entre estas iniciativas, as pessoas são convidadas, o propósito é partilhado as portas são abertas às sugestões mas simplesmente não há aderência, porque pretendemos criar também a nossa iniciativa, e medir forças para ver quem consegue o maior número de membros, temos que perceber que esta não é exatamente uma causa de rivalidade, mas uma causa nobre de união, quanto mais unidos estivermos, melhores serão os resultados. Não quero com isso dizer que não devem ser criadas iniciativas, de modo algum, quero dizer que antes de serem criadas iniciativas paralelas em prol da mesma causa, devemos estudar a hipótese de conciliar os esforços, uma fogueira só permanece acesa a noite toda enquanto a lenha se mantiver unida, se separarmos a lenha, haverá fogo certamente, mas fogo baixo que logo logo se apaga.

9. Considerações Finais.

WR: Em tom conclusivo, a nossa sociedade tem nos dados extractos de um crescimento satisfatório, acredito que mais cedo ou mais tarde os esforços serão conjugados e os resultados falarão por sí, preocupa-me um pouco a segregação da comunidade académica face aos desafios do mercado de trabalho, tenho a percepção que por vezes estes vivem num mundo paralelo, tenho visto muitos jovens terminarem as engenharias e ainda assim incertos sobre o que terão que enfrentar e como irão fazê-lo, o objectivo dos grupos como CAFA, CAST e entre outros fóruns de tecnologia, é também servir de conselheiros para aqueles profissionais e académicos que sentem-se um pouco baralhados em suas carreiras e carecem de alguma orientação. Assim sendo, fica aqui o incentivo à nossa comunidade de tecnologia, para que estejamos mais participativos aos projectos que já existem, afinal até onde sei nenhum deles augura proveitos financeiros como retorno, logo, tudo o que existe é para o proveito e benefício de todos nós, juntos seremos mais capazes de imprimir os resultados destas iniciativas.

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