Angola deu um grande salto no sector das telecomunicações, revelam os dados da União Internacional das Telecomunicações (UIT) relativos a 2021 e que constam no relatório de 2022. No espaço de um ano, o custo das telecomunicações (medido pelo seu peso no Rendimento Bruto Nacional (RNB per capita), caiu para mais de metade.
A acessibilidade à internet subiu 7 pontos percentuais, entre 2017 e 2021, passando de 26% para 33% (33 em cada 100 angolanos teve acesso à internet) e aproxima-se da média africana de 40%. E o peso de um pacote de dados e voz de baixo custo para telemóvel está próximo dos 2%, que é a meta de conectividade digital a atingir em 2030, estipulada pela agência das Nações Unidas que se dedica às tecnologias de informação e comunicação.
No início de 2023, a UIT e o gabinete do enviado do secretário-geral da ONU para a Tecnologia anunciaram metas ambiciosas para a conectividade digital universal e significativa até 2030. A acessibilidade de preços, definida como a disponibilidade de acesso à banda larga a um preço inferior a 2% do RNB per capita mensal, foi identificada como prioridade para assegurar que todos possam beneficiar plenamente de conectividade.
O preço médio global dos serviços de banda larga móvel (medido pelo preço do pacote de dados móveis mais baixo relativamente ao RNB per capita) era de 1,9% em 2021. Em Angola situava-se nos 2,4%, muito abaixo da média africana de 7,1%, com grande disparidade entre países, que vão dos 38% no Níger aos 0,66 da Tunísia, o país com os custos de internet mais baixos no continente (ver infografia).
Já no que toca à acessibilidade, Angola deu passos mais tímidos, com uma subida de um ponto percentual por ano desde 2019, após três grandes saltos em 2016, 2017 e 2018, fixando-se nos 33%, 7 pontos percentuais abaixo da média do continente africano. A acessibilidade é medida pela proporção de indivíduos que utilizaram a internet a partir de qualquer local nos últimos três meses. O acesso pode ser feito através de uma rede fixa ou móvel.
Como o serviço de internet fixo exige avultados investimentos em infraestruturas, a banda larga móvel, que permite o acesso à internet a partir de um smartphone, tornou-se referência para a utilização global, uma vez que proporciona um acesso relativamente barato em comparação com o serviço fixo, sublinha a UIT. São também os serviços móveis que têm feito avançar a internet nos países em desenvolvimento, onde ainda “há muitas pessoas a viver na escuridão digital”, segundo Doreen Bogdan- -Martin, diretora do Gabinete de Desenvolvimento de Telecomunicações da UIT.
É precisamente nos serviços de internet fixa que Angola regista menos avanços, com uma conectividade de 0,79% (por 100 pessoas), muito abaixo da média global de 18%, embora o país esteja acima da média africana de 0,70%. As Seicheles e as Maurícias, dois pequenos territórios, lideram em África, com 39% e 25%, e Sudão do Sul está na cauda, com 0,0019%.
Mas é nos custos com o acesso às telecomunicações que Angola registou mais avanços nos últimos anos, segundo os dados da UIT, que ainda não reflete a entrada do quarto operador móvel, Africell, em 2022, já que só vão até 2021.
Angola fecha o top 10 dos países com custos mais baratos em África, ao lado da África do Sul, com 2,4%. Este indicador é medido pelo peso de um pacote de dados móveis e de voz de baixo consumo relativamente ao Rendimento Nacional Bruto per capita. O top 10 é liderado pela Tunísia (0,66%), seguido pelo Egipto (0,78%) e Marrocos (1,1%), três países do norte de África.
Guilherme Massala, engenheiro informático e colaborador do portal Menos Fios, especializado em novas tecnologias, assume que a descida dos custos das telecomunicações é uma evidência e não há como não reconhecê-lo. Ainda assim, o preço das telecomunicações continua a ser um “calcanhar de Aquiles para muitas famílias”. Isto, a par de problemas de falta de cobertura, inclusive em Luanda e em zonas urbanas, impede muitas famílias e empresas de acederem a um serviço com enorme potencial para melhorar a sua renda e os seus negócios.
Globalmente, de acordo com o relatório da UIT de 2022, estima-se que a percentagem de utilizadores da Internet será duas vezes mais elevada nas zonas urbanas do que nas zonas rurais em 2020. Uma menor utilização rural é em parte resultado da falta de infraestruturas, mas há fatores adicionais em jogo. “As zonas rurais têm geralmente níveis de rendimento mais baixos, e a população tem frequentemente níveis de educação mais baixos e níveis mais baixos de competências em TIC, todos eles negativamente correlacionados com a utilização da internet”, refere a agência das Nações Unidas.