No relatório denominado “Freedom on the Net 2023: The Repression Power of Artificial Intelligence” [Liberdade na Internet 2023: O poder de repressão da inteligência artificial, na tradução para português], a organização indicou que a empresa Mind Force, sediada em Israel, operava uma rede de contas em Angola e que publicava conteúdo em apoio ao partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e contra o principal partido da oposição do país, União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
“Um funcionário da Mind Force revelou publicamente que o Governo Angolano era um cliente”, diz a Freedom House.
Esse é apenas um dos exemplos do relatório sobre o aproveitamento da Inteligência Artificial (IA) para intensificar campanhas de desinformação na Internet.
Segundo a investigação, entre junho de 2022 e maio de 2023, período em que a organização fez o levantamento, pelo menos 47 Governos – como Rússia, Brasil, China, Índia, Angola, México, Venezuela ou Nigéria – recorreram a comentadores para manipular as discussões ‘online’ a seu favor, o dobro do número registado há uma década.
Entretanto, as ferramentas baseadas em IA que podem gerar texto, áudio e imagens tornaram-se rapidamente mais sofisticadas, acessíveis e fáceis de utilizar, estimulando uma escalada preocupante destas táticas de desinformação.
No período em análise, a nova tecnologia foi utilizada em pelo menos 16 países para semear dúvidas, difamar os opositores ou influenciar o debate público, entre eles a China, França, Brasil, Reino Unido, Estados Unidos ou Canadá, segundo a organização sem fins lucrativos Freedom House, com sede em Washington.
Contudo, o relatório conclui que, embora as inovações na IA tenham contribuído para o 13.º ano consecutivo de declínio global da liberdade na Internet, as formas mais antigas de repressão digital continuaram a proliferar.
O Irão sofreu a pior queda na pontuação do ano, quando as autoridades encerraram os serviços de Internet e bloquearam as redes sociais para reprimir protestos antigovernamentais.
Países como China, Cuba, Indonésia, Irão, Jordânia, Myanmar (antiga Birmânia) ou Uzbequistão estão entre os territórios cujos Governos mais aplicam formas tradicionais de censura ‘online’.
O Brasil foi o único país lusófono analisado neste segmento, com o relatório a apontar que bloqueou ‘websites’ e forçou a remoção de conteúdos ‘online’.
Já em relação à liberdade global na Internet, que diminuiu pelo 13.º ano consecutivo, o relatório classificou o Brasil e Angola, os únicos países lusófonos analisados, como “parcialmente livres”.
Nessa categoria estão ainda países como Ucrânia, Hungria, México, Índia ou Marrocos.
No total de 70 países abrangidos pelo relatório, a Freedom House identificou 17 Estados como “livres” – entre eles França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Estados Unidos ou Canadá -, 32 como “parcialmente livres” e 21 como “não livres” – como Rússia, China, Irão, Myanmar, Venezuela ou Cuba.
A Freedom House indicou que à medida que as condições deterioraram-se em 29 países, melhoraram em outros 20, apesar de os ataques à liberdade de expressão se terem tornado mais comuns em todo o mundo.
O “Freedom on the Net” é um estudo anual sobre os direitos humanos na esfera digital. O projeto avalia a liberdade na Internet em 70 países, representando 88% dos utilizadores em todo o mundo. Este relatório, o 13.º da sua série, cobriu a evolução entre junho de 2022 e maio de 2023.
Mais de 85 analistas e consultores contribuíram para a edição deste ano, utilizando uma metodologia padrão para determinar a pontuação de liberdade na Internet de cada país numa escala de 100 pontos, com 21 indicadores separados relativos a obstáculos ao acesso, limites de conteúdo e violações dos direitos dos utilizadores.