Estamos nos idos de 1770. O trabalho mais pesado que as pessoas tinham que fazer eram por via da tracção animal, força do vento e da água dos rios. Até que descobriu-de a energia a vapor e a vida das sociedades mudou radicalmente. As carruagens puxadas por bois, murros e cavalos, os navios propulsionados pelo vento, os moinhos a vento, passaram todos a ser movidos a vapor. De noite para o dia, aumentaram a velocidade, distância e capacidade de produção e deixaram de depender dos caprichos da natureza. Iniciou-se a produção industrial em massa e assim surgiu a Primeira Revolução Industrial – a energia baseada em vapor. Duzentos anos depois, descobriu-se a electricidade e a capacidade de produção em massa que já era considerável aumentou ainda mais e surgiu a Segunda Revolução Industrial – a era da ciência e da produção fomentada pela electricidade. E em por volta de 1950 surgiu o computador e as tecnologias digitais com o enorme impacto na vida das pessoas; e surgiu a Terceira Revolução Industrial. Parou-se por ali? Não. Surge agora, desde 2016 a Quarta Revolução Industrial. A Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, é um conceito desenvolvido pelo alemão Klaus Schwab, director e fundador do Fórum Económico Mundial. A indústria 4.0 tende a ser totalmente automatizada a partir de sistemas que combinam máquinas com processos digitais.
A Quarta Revolução Industrial projecta assim uma era de robótica avançada, automação em larga escala, Inteligência Artificial, Impressão 3D, Engenharia Genética, computação quântica, etc… e a 5G. As redes 5G deverão ser pelo menos 10 vezes mais rápidas do que a 4G LTE, tornando-se eventualmente 100 vezes mais rápidas. As soluções avançadas pela 4ª Revolução Industrial e que utilizam todas estas novas tecnologias têm potencial para ajudar os países a responder melhor às várias necessidades dos seus cidadãos. Desde a educação à saúde, passando do entretenimento aos serviços financeiros digitais e muito mais.
A pergunta que não se cala é: até que ponto o nosso país está preparado para acolher essas novas tecnologias?
Em primeiro lugar, há que resolver as lacunas digitais que se mantêm, ainda e que nunca foram tão críticas como nos últimos dois trimestres deste ano, com a emergência da pandemia da Covid-19 e a extinção do antigo, modo de vida até então considerado “normal”.
O primeiro trimestre de 2020 viu uma desaceleração económica em larga escala no nosso país, à medida que a disseminação do novo vírus corona aumentou em número e em extensão geográfica. Fomos obrigados a fechar as, os voos ficaram largos meses em terra e por via do estado de emergência e de situação de calamidade, milhões de pessoas em todo o país foram forçadas a permanecer em casa e socialmente distantes das outras. Notou-se um aumento imediato do tráfego de rede, por causa do trabalho remoto. O estudo on line e a utilização geral da Internet para todas as formas de comunicação, recolha de informações e acesso a serviços digitais tornam-se a norma. Os reguladores, seguindo a tendência a nível mundial e em África começaram a libertar espectro temporário para ajudar os operadores a aliviar o congestionamento da rede, como resultado directo da pandemia. Com estas mudanças rápidas facilitadas para responder às necessidades imediatas da sociedade durante a pandemia, as discussões sobre a exclusão digital em vástas áreas do país tornaram actuais. Os municípios sentem agora um impacto acrescido destas lacunas, na medida em que a pandemia revelou as suas deficiência no que diz respeito ao acesso digital. Países como os EUA, o Reino Unido, a Alemanha, o Brasil e outros mais, estabeleceram metas de conectividade para aqueles que permaneceram desconectados nas zonas rurais ou excluídos mesmo nas zonas urbanas devido aos custos de conectividade e outros desafios para os consumidores.
O acesso à Internet foi declarado um direito humano fundamental e a Covid-19 veio mostrar-nos a todos como a conectividade de banda larga era vital para responder a este vírus, permitindo que a economia e a sociedade continuassem a avançar independentemente das medidas de distanciamento social. .Ora, com muitos países a atravessar a segunda onda desta pandemia, a resiliência nos sistemas de conectividade adquire uma importância acrescida. O “novo normal” parece estar para ficar, dali ser imperativo adaptar o nosso modo de vida e os sistemas que suportam isso, deve evoluir muito rapidamente.
É por isso que avançar rapidamente e em força ao encontro da 4ª Revolução assume uma importância estratégica para o desenvolvimento de Angola. E ol caminho afigura-se longo e cheio de escolhos. A penetração da Internet em Angola era de apenas 22% no final de Dezembro de 2019. Por isso, a exclusão digital em Angola deve ser combatida imediatamente e a vários níveis. Económico, social,governamental e empresarial. Com o país dotado de recursos naturais que vão desde petróleo e gás, minerais e diamantes até terras agricultáveis, faz sentido que estes sectores sejam priorizados para a tal automatização em larga escala e digitalização que a 4ª Revolução preconiza .O aumento das exportações e a manutenção da produção, mesmo quando é necessário um aumento da distância social, exige uma maior dependência de máquinas inteligentes e operações com intervenientes mais pequenos (agricultores de subsistência, pequenos operadores mineiros, etc.) ligados a cadeias de abastecimento regionais e nacionais.
Resta a questão do capital humano: a grande percentagem de jovens na população angolana e a natural propensão das novas gerações para o uso das tecnologias digitais tornam Angola num país onde a “conversão” para a 4ª Revolução seja relativamente facilitada se se conceber e implementar uma estratégia de inclusão digital que passe pelo sistema de ensino não só formal, como também informal no que poderia ser considerado uma espécie de “alfabetização digital”.
Por Celso Malavoloneke , publicado no MenosFios com a autorização da sua assessoria de imprensa.