O que é afinal uma startup? [ Por Vanda Oliveira]

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A palavra startup está na moda, mas o que distingue uma startup de uma pequena ou grande empresa?

De facto, o conceito de startup é ainda bastante novo entre os angolanos. E estamos a experienciar um hype da palavra startup, ultimamente toda a gente fala sobre startups, é como se hoje em dia todos e as suas mães têm startups – desde a app (aplicação), a boutique de roupa ou roulotte – mas na realidade há muitíssimo poucas startups reais em Angola.

Para desmistificar o conceito de startup, no último Conversas Startup abordamos sobre o que realmente é uma startup, e não foi preciso reinventarmos a roda, pois o conceito de startup está muito bem definido por pessoas muitos mais inteligentes do que nós, que estudaram muito bem o que diferencia uma startup da empresa tradicional (pequena ou grande).

Começamos com um pouco de história: o termo startup popularizou-se durante a crise das empresas ponto-com (dot-com), nos anos 90s. Na época, foi formada uma bolha especulativa caracterizada pela alta das acções das novas empresas de tecnologia de informação e comunicação (TIC). A Bolha da Internet, como ficou comummente conhecida, adoptou e começou a utilizar o termo startup, que até então apenas significava um grupo de pessoas trabalhando numa ideia diferente e com potencial de fazer muito dinheiro.

Vamos começar por esclarecer o que uma startup não é:

● Uma startup não é uma versão mais pequena de uma grande empresa

● Uma startup não é uma ideia de negócio

● Uma startup não é uma empresa sem dinheiro

● Uma startup não é uma app

Estas acima foram algumas das respostas que os participantes do Conversas Startup deram no início da sessão.

Então, o que é afinal uma startup?

Vou começar por resumir o que é uma startup, juntando as contribuições de três grandes influenciadores no mundo do empreendedorismo a nível global, de acordo com a sua ampla aceitação e complementaridade, são as de Steve Blank, Eric Ries e Paul Graham.

Uma startup é uma organização temporária, que na procura de um modelo de negócio repetível e escalável, é desenhada para entregar um novo produto ou serviço e para crescer rapidamente, trabalhando em condições de extrema incerteza.

Abaixo, seguem então três definições de startup em mais detalhe:

➤ A lenda de Silicon Valley (Vale do Silício) e empreendedor em série Steve Blank define a startup (no contexto da indústria tecnológica) como uma organização temporária desenhada para procurar um modelo de negócio repetível e escalável. Isto quer dizer, que o objectivo da startup é tentar validar o seu modelo de negócio – criar hipóteses e testa-las, descobrir quem são os seus clientes, descobrir os seus canais de distribuição e parceiros, descobrir como irá fazer dinheiro – para rapidamente crescer, gerar lucro e tornar-se numa grande empresa (deixar de ser uma startup), impactando os mercados globais. Para um negócio ser repetível significa que ele é capaz de entregar o mesmo produto em escala potencialmente ilimitada. Já ser escalável significa crescer cada vez mais sem que isso influencie no modelo de negócio.

Segundo Blank, o/a fundador/a da startup não quer ser apenas o/a seu/sua próprio/a chefe, mas sim conquistar o mundo. Desde o primeiro dia da criação da startup, o objectivo é crescer a startup para ser uma grande empresa, que vai trazer inovação e disrupção e conquistar mercados. O/A fundador/a acredita que está a criar “the next big thing”. Enquanto que uma pequena ou média empresa (PME) se estabelece em um modelo de negócio já provado, não têm necessariamente de ter um produto ou serviço inovador e foca-se em assegurar o seu lugar e servir o mercado local (por exemplo: salão de beleza, mercearia, restaurante, etc.). Portanto, a força motriz de uma startup é diferente a de uma PME.

Eric Ries, discípulo de Steve Blank, é outro guru startup e empreendedor e autor da metodologia Lean Startup, define startup como uma instituição humana desenhada para entregar um novo produto ou serviço em condições de extrema incerteza. Ries argumenta que é na inovação que está o cerne do sucesso da empresa, e como a inovação é inerentemente arriscada as startups confrontam-se com condições de extrema incerteza, pois estão a trazer um produto ou serviço novo no mercado sem ter a certeza se este vai ser bem sucedido. A definição de Ries também exclui o tamanho, uma startup não tem a ver com o seu tamanho, ou seja, tanto pode ser uma startup de duas ou 100 pessoas.

Paul Graham, VC (Venture Capitalist) e co-fundador da Y Combinator (uma das melhores aceleradoras de startups do mundo) define startup como uma empresa desenhada para crescer rapidamente. O foco aqui é no crescimento, e sem restrições geográficas, o que diferencia startups de PMEs. Para crescer rapidamente, significa que a startup tem de criar algo com potencial de venda para o mercado global (por exemplo: é diferente uma Tupuca de um restaurante local que faz entregas ao domicílio. O restaurante não é escalável). Graham acrescenta que para uma startup crescer em grande, ela tem de criar algo que muitas pessoas desejam e alcança-las e servi-las todas. É certo que um restaurante faz algo que muitas pessoas querem, a limitação é que só oferece um determinado leque de escolhas e dificilmente irá conseguir servir todas. Graham argumenta também que uma startup não tem de ser necessariamente tecnológica, desde que o foco seja crescer rapidamente de forma a tornar-se uma empresa global.


Ainda, outro aspecto que diferencia a startup de uma empresa tradicional é a forma como a startup é financiada. O financiamento em capital de risco (VC – Venture Capital) é bastante popular nas startups, pois estas geralmente procuram ser disruptivas, e sem capital de risco, é muito difícil persistir na busca de um modelo de negócio que comece a gerar lucro e se sustente. O ideal é o negócio sobreviver até a validação do modelo de negócio e que a sua receita comece de facto a crescer. Caso contrário, provavelmente a startup terá de fazer uma nova rodada de investimentos. Este foi o caso, por exemplo, do Facebook, Uber ou Snapchat.

Para os VCs e Anjos de Negócios (Business Angels) que investem nas startups o objectivo é que estas tenham uma saída (startup exit) bem sucedida, seja por exemplo, via de uma IPO (Oferta Pública de Inicial), M&A (Merger & Acquisition)ou venda.

Questão Bonus:

E quando é que uma startup deixa de ser startup?

Posso afirmar que é geralmente aceite, embora haja quem discorde, que uma startup deixa de ser startup quando encontra o seu modelo de negócio repetível e escalável. E geralmente isso acontece num período de 5 a 7 anos.


Não chames a tua empresa de startup, assim ajudarás a evitar o hype startup 😉 . E não há nada de errado em ser uma PME. O importante é gerar emprego, impacto económico e bem estar social. O importante é fazer a economia crescer e contribuir para a prosperidade da sociedade.


Artigo publicado originalmente por Vanda Oliveira , republicado no MenosFios.com com a sua autorização.

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