A mentira sobre a cultura “mobile” em Angola

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A mentira sobre a cultura mobile em Angola

Porquê que eu parei de ouvir certas pessoas e frequentar alguns grupos de desenvolvimento…

Hoje! Quando conversava com um amigo e colega, discutíamos diversos aspectos e idéias sobre tecnologia e o mercado angolano. Falávamos sobre quase tudo relacionado a ter uma ideia e fazer com que as pessoas possam aderir. Meu amigo tem um espírito mais corporativo, notado em todas discussões e/ou debates que já tivemos pois ele trabalha numa empresa bem com esse espírito e a maioria das empresas em Angola, pelo menos as que se prezem possuem essa filosofia.

A conversa ía muito bem, concordávamos e descordávamos em certas partes mantendo o fluxo das ideias equilibrado. Pelo menos até ele dizer:

“Pena que o nosso povo ainda está a adoptar essa cultura dos apps aos poucos.”

De certa forma ele não deixa de ter razão. E de certa forma esse pensamento quase errôneo fazem com que muitas pessoas não apostem no desenvolvimento mobile em Angola, talvez em outras áreas também, porque possuem este pensamento incutido na memória. Ele é apenas um dos muitos que já me disse isso e muitas vezes até pior. Eu parei de frenquentar vários grupos porque os comentários eram sempre critérios sem bases ou uma resposta emocional e pejorativa.

O mercado, muito menos os apps irão começar com usuários apenas.

Ou seja até nos mercados que existem e bem mais desenvolvidos apesar da demanda dos usuários eu vejo as empresas tentando atingir suas métricas ou atingir suas metas para conseguir e fazer crescer sua base de usuários.

Então passei a pensar mais no valor do produto que quero oferecer e não simplesmente no usuário.

Há vários meses atrás escrevi um artigo, 2014 será um ano mobile para Angola. Vários meses já se passaram e vamos analisar alguns acontecimentos que me ocorreram agora na cabeça.

BigBrother Angola

Você deve estar a pensar que essa ideia é meio doida, mas vamos lá clarificar. O que o BigBrother Angola tem haver com o cenário Mobile? Bom este pequeno evento possuía só na primeira semana em que teve início 30.000 gostos na sua página, que acredito ser um bom princípio de audiência.

As pessoas votavam pelo WeChat!

Este fenómeno sustentou minha teoria. Notava-se obviamente a quantidade de pessoas recomendando e baixando o aplicativo, WeChat. Pena não poder saber isso em números mais acredito que seria uma base enorme de usuários baseada no furor do evento.

Expotic 2014

A Expotic 2014 decorreu sob o lema “os serviços na nuvem e a mobilidade do cidadão, desafios presentes e futuros, na acessibilidade disponibilidade e qualidade”. Desperto para vossa atenção “mobilidade do cidadão”. É a primeira vez que vejo o interesse sobre o assunto num evento desse patamar em Angola.

AppsForAngola

No segundo período do ano surgiu o concurso AppsForAngola. Um concurso que pretende inspirar e orientar pessoas a criar conceitos de apps para telemóveis que poderiam elevar, melhorar e dar valor ao dia-a-dia do povo de Angola!

É a primeira vez que se dá ênfase num acontecimento desse género em Angola, e é muito bom que comecem a florescer interesses por esse lado da parte das instituições ou entidades que possam apoiar e patrocinar esse género de eventos.

“Para participar tem que viver em Angola, falar Inglês basico, ter 18–28 anos e cada grupo tem que ter 2–3 pessoas.” Pena que meu perfil não se encaixava nas regras do concurso.

Outro fenómeno é a quantidade de pessoas que usa aplicativos de redes sociais como instagram, whatsapp e facebook messenger. Estes aplicativos deram um “boom” no interesse das pessoas adquirir ou querer adquirir um smartphone, especialmente o whatsapp. Hoje em dia quase todas as pessoas que conheço e talvez que vocês conheçam estão usando o whatsappEntão os smartphones destes usuários não podem correr apps angolanos?

Em Setembro comecei um projecto com um amigo e ele fez o seguinte estudo:

Análise sectorial do mercado angolano a nível T.I.

Os lucros e despesas em tecnologia de informação têm crescido exponencialmente nos últimos tempos, Angola não podia fugir a regra apresentando grande potencialidade para apostar nesse sector.

Os consumidores de tecnologias de informação em Angola têm crescido de forma substancial. A percentagem de utentes no uso de recursos tecnológico vem logo na ilustração a seguir:

A imagem mostra que em apenas 7 anos isto é de 2005 á 2012, o número de utilizadores web que era de 259.234 passou a ser de 2.727.660. Para os assinantes móveis não foge a regra no mesmo período o número que era de 1.611.118 passou a ser de 10.508.758, só para citar estes.

Espera aí! Vamos repetir um pouquinho esta parte:

Para os assinantes móveis não foge a regra no mesmo período o número que era de 1.611.118 passou a ser de 10.508.758, só para citar estes.

A implementação de novas aplicações em Angola tem tido uma percentagem na ordem dos 48%, demonstrando o interesse na aposta neste sector.

Estes são gráficos de análises de estudo de dois anos atrás. Ou seja, com base neles e num fluxo de crescimento exponencial o número deve estar superior agora.

Entrar no mercado mobile em Angola não apresenta uma concorrente directa dada a escassez de aplicativos mobile e a inexistência de uma boa base de desenvolvedores que se interessem pelo assunto.

Analisando o Top 100 de todas categorias de aplicativos na appstore angolana por exemplo, você facilmente identifica a falta de qualidade e o número inexistente de aplicativos direcionados ou úteis para o quotidiano angolano. Fazendo o mesmo para a google play store provavelmente você vai encontrar mais aplicativos mas que não deixam de ser poucos e com muita baixa qualidade para poder ganhar relevância.

Então você ainda não quer se arriscar por este lado?

Vamos agora ver algumas opções que podem servir como factores de sucesso para você que está na dúvida de entrar para essa aventura.

  • Falta de concorrência
  • Oportunidade de monopólio
  • Grande variedade de opções e ideias a fim de ajudar o usuário
  • Resposta rápida aos utilizadores
  • Visão e criatividade estratégica dos desenvolvedores
  • Primeiro a entrar nesse negócio de forma séria e responsável

Eu podia continuar esse artigo nomeando diversos assuntos que podem ser positivos ou negativos para uma aposta mobile em Angola. Mas a verdade é que faz tempo que o problema deixou de ser o interesse ou a falta de usuários. O nosso problema está na falta de desenvolvedores que se interessem, motivação ou força de vontade, etc… nossos estudantes, desenvolvedores não possuem um espírito de empreendedorismo, estamos enraízados numa ideia de resultado imediato totalmente ligada ao lucro monetário.

Aplicativos em Angola podem resultar e já é uma grande necessidade.

O necessário é enxergar ideias que possam fazer sentido ao nosso mercado, esse tipo de ideias são ideias que possam fechar alguma lacuna no quotidiano angolano.

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Este texto foi publicado por Amarildo Lucas no Medium e republicado no MenosFios com a autorização do autor.

1 COMENTÁRIO

  1. Vou mencionar isso em possiveis discuções: “O mercado, muito menos os apps irão começar com usuários apenas.” 🙂

    Meus 2 centavos: Nao é necesario genialidade já que muitos se intimidariam em começar com um projecto sobre alguma ideia considerando que esta não original ou que resultaria inútil, alias, num principio é uma boa ideia copiar ideias/conceptos de aplicações estrangeiras e adaptarlos para a nossa realidade. Importante: quando se tem uma ideia, limitar-la para que se enquadre em padrões que o tornem realizaveis na prática, já que muitos de desanimariam em continuar investindo nesse sentido quando se “fracaça” na posta em prática de uma ideia “ideal”.

    E claro, excelente e importante reflexão. Tambem acho que se necesita apps angolanos para já.

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