Acontece que, atualmente, em todo o mundo, 37% das mulheres continuam excluídas do acesso à internet. Neste momento, há menos 259 milhões de mulheres do que homens com acesso à rede, ainda que elas representem metade da população mundial.
O teimoso fosso de género existente no acesso às tecnologias de informação foi, precisamente, alvo de reflexão do Dia Internacional da Mulher deste ano, que se assinalou a 8 de março, e teve como tema: “DigitALL: Inovação e Tecnologia para a Igualdade de Género”.
A efeméride pretendeu, por um lado, reconhecer e celebrar as mulheres e raparigas que triunfam no avanço das tecnologias transformativas e na educação digital e, por outro, perceber o impacto real do fosso existente entre homens e mulheres no acesso a tecnologias de informação.
Além disso, dá também destaque à importância de proteger as mulheres e as raparigas no espaço digital. Com efeito, de acordo com a União Internacional de Telecomunicações (UIT), a agência da ONU especializada em tecnologias de informação e de comunicação, apenas 63% das mulheres utilizam a internet, enquanto 69% dos homens são utilizadores da rede. No entanto, apesar de terem menor acesso, as mulheres são as que mais sofrem com a violência no mundo digital.
Do ensino online e ativismo digital à rápida expansão de empregos tecnológicos com salários elevados, a era digital gerou oportunidades inéditas para o empoderamento das mulheres. No entanto, o avanço da tecnologia também está a introduzir novas formas de desigualdades e a aumentar as ameaças aos seus direitos e bem-estar.
As mulheres e meninas continuam sub-representadas na criação, utilização e regulamentação da tecnologia. São também menos propensas a usar serviços digitais ou a ingressar em carreiras relacionadas com a tecnologia e estão significativamente mais expostas ao assédio e violência online.
Esta realidade limita não só o seu próprio empoderamento digital, mas também o potencial transformador da tecnologia como um todo: na última década, a exclusão das mulheres da esfera digital eliminou um bilião de dólares do PIB de países de baixo e médio rendimento.
O mundo vê-se agora numa encruzilhada: deve-se permitir que a tecnologia agrave as disparidades existentes e concentre ainda mais o poder nas mãos de poucos ou deve pô-la ao serviço de um futuro mais seguro, sustentável e igualitário para todos?
Com efeito, as escolhas feitas hoje impactarão profundamente o caminho a seguir e as Nações Unidas, nomeadamente a ONU Mulheres, agência da ONU especializada em direitos das mulheres, identifica quatro passos para que se avance na direção correta.
Em primeiro lugar, é necessário acabar com as diferenças de género no acesso à internet e às competências digitais. À medida que as nossas vidas se tornam cada vez mais digitalizadas, as diferenças de género no acesso ao mundo digital ameaçam deixar mulheres e meninas ainda mais para trás.
Nos países menos desenvolvidos– onde, apesar da rede de banda larga móvel cobrir 76% da população, apenas 25% está ligada – sendo que os homens têm 52% mais de hipóteses de pertencer a essa minoria online. Estes dados deixam claro que para reduzir as desigualdades digitais será necessário mais do que melhorar as infraestruturas digitais.
Abordar fatores como acessibilidade, acesso à eletricidade, privacidade e segurança online, normas sociais, competências digitais e alfabetização será fundamental para assegurar a inclusão significativa das mulheres. Nenhum sector pode fazer isso sozinho: será necessária a colaboração entre governos, empresas e organizações da sociedade civil e de direitos das mulheres, entre outros.
Por último, é necessário abordar a violência de género que resulta dos meios tecnológicos. Apesar da sua prevalência e gravidade, não existe uma definição universalmente aceite de violência de género facilitada pela tecnologia, mas pode ser entendida como qualquer ato de violência cometido, assistido ou agravado pelo uso das TICs com base no género. Embora tais atos geralmente ocorram na esfera virtual, eles resultam em danos tangíveis – físicos, sexuais, psicológicos, sociais, políticos e/ou económicos.