A China na conquista da Inteligência Artificial

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A China é uma das potências mundiais mais poderosas atualmente, com gigantescos investimentos em desenvolvimento civil e militar, está a se destacar em avanços do campo da inteligência artificial (IA). Mas com a crise de microchips e o histórico de rápido sucesso do ocidente nas pesquisas e aplicações da IA, o país começou a potencializar os seus esforços económicos e científicos para alcançar este mercado tecnológico.

E em poucos anos, ocupou o segundo lugar do país que mais investe em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de IAs e demonstra que tem conseguido alcançar a atenção mundial nesta corrida pelo podium.

Construir pontes de inovação

Antes da entrada de Deng Xiaoping como líder do país em 1978, a China viveu num atraso científico gigantesco devido aos valores socioculturais estabelecidos pelos governos anteriores e pelos embargos económicos dos Estados Unidos (EUA) durante a Guerra Fria.

As reformas trazidas por Xiaoping abrem o mercado chinês, inserem valores culturais que priorizem a educação e aumentam o foco nos investimentos em P&D, faz com que a China entra num rápido crescimento tecnológico e científico.

O país iniciou os seus primeiros desenvolvimentos em IA na década de 2010, focadas no mercado privado com sistemas ligados à internet das coisas, big data, computação em nuvem e outras tecnologias da informação.

Isso animou os pesquisadores e os investidores do mercado mundial na área, o que levou o país a começar aplicações governamentais, inserir a tecnologia na produção, manutenção e melhoria da infraestrutura física e social do país. Porém, os avanços da China nunca foram bem vistos por parte da comunidade internacional, ainda mais por aqueles que se declaram ser os principais rivais desta potência.

Os EUA têm avançado contra o país desde a sua revolução em 1949, onde implementou estrategicamente diversas sanções económicas e industriais para frear os avanços tecnológicos e científicos da China. A qual não mediria esforços para contornar esta situação e garantir um lugar no podium de uma corrida que só começava.

Uma corrida caótica

Uma IA avançada é uma tecnologia que necessita de altíssimos recursos computacionais, ainda mais quando se trata de aplicações mercado lógicas e do campo de administração pública de um dos maiores países do mundo. Para isso é necessário uma grande e diversa cadeia de produção e desenvolvimento especializada no ramo, que entregue profissionais, softwares e hardwares de qualidade.

Foi então que, na metade da década de 2010, a China iniciou investimentos industriais focados nesta demanda, perdeu parte da sua dependência de importação de outros países.

A iniciativa de novos investimentos, se provaria essencial nos anos seguintes, devido a novas sanções económicas estabelecidas pelos EUA, motivada por um escândalo de espionagem e roubo industrial que envolvia um cidadão chinês ligado ao ramo da tecnologia.

Em 2017, o Conselho do Estado da China publicou o “Plano de Desenvolvimento em Inteligência Artificial da Próxima Geração”, que visa tornar a China o país líder em tecnologia IA até 2030.

O plano possui três objetivos principais: o primeiro é acelerar as pesquisas na área com altos investimentos públicos/privados e promover programas de inovação tecnológica; o segundo é fazer a integração da IA em variados sectores da economia chinesa, incluindo saúde, transporte, manufatura e militar; e o terceiro prevê um foco na consciencialização e compreensão civil sobre a área.

O governo chinês é um dos governos que mais investem em P&D e aplicação de IAs no quotidiano da sua população. Ela já acompanha o aprendizado e concentração dos alunos, participa na produção e transporte da indústria de base, coordena os funcionários robôs na indústria de consumo, auxilia no armazenamento das centenas de terabytes de dados dos cidadãos e opera em diversos campos do robusto Exército de Libertação Popular.

Mas não é só o governo que faz frente no desenvolvimento da área, empresas como Alibaba, Baidu e a iFlytek, são as maiores empresas no ramo que atuam no país. O Baidu destacou-se no princípio do ano com o anúncio do seu framework de processamento de linguagem natural, Ernie Bot, que ainda não tem data de lançamento e não possui indícios de ser um competidor direto ao ChatGPT.

Em 2018, a China ultrapassou os EUA em três lugares, como a maior possuidora de patentes de IA, a maior produção científica e a maior quantidade de citações académicas no mundo, além de estar em segundo lugar em quantidade de especialistas e companhias focadas no campo.

No entanto, tais conquistas despertam a atenção daqueles que perdem com elas, o que gera tensões ainda maiores quando se trata do embate entre as duas maiores potências do planeta.

O governo dos EUA demonstrou forte apreensão a respeito do rápido avanço da China na corrida das IAs, ainda mais com as aplicações militares e farmacêuticas que surgiram a partir do plano de 2017, o que ajudou a tencionar outros conflitos vigentes entre as duas hegemonias.

Conflitos inacabados

A produção dos avançados microchips da TSMC, sempre é trazida como um dos principais temas de debate sobre o conflito China-Taiwan. Tais microchips, são peças-chave para o desenvolvimento de IAs de altíssima capacidade.

A tensão aumentou com a entrada dos EUA a oferecer o suporte diplomático a Taiwan, onde juntos iniciaram extensas restrições de comércio tecnológico à China; aumentaram as taxas de exportação, limitaram os diversos acessos a patentes de microchips e até proibiram certas empresas de fazerem qualquer partilha de conhecimento científico ao país.

Por mais que a China tenha ganhado grande independência industrial na área, ela ainda fazia importações pontuais para a sua produção, o que foi bastante dificultado com as inúmeras restrições.

Além das complicações geopolíticas, a China é conhecida por ser um dos países com maior nível de vigilância civil do mundo. E com a aplicação das IAs neste campo, as capacidades do governo armazenar os dados dos seus cidadãos é enorme; reconhecimento facial, de voz, de consumo e até de comportamento social, são coletados para usos de ordem governamental.

O uso das IAs de maneira autocrática, pode causar danos ou cercear os direitos de uma sociedade, criando assim, uma aversão irracional a uma extraordinária ferramenta. Além dos riscos à liberdade de expressão e à democracia, que diminuiriam a confiança da população no governo e nas empresas que usam essa tecnologia.

Tais usos indevidos das IAs, não se limitam apenas à China. Os EUA já esteve nos holofotes pelo alto grau de vigilância e uso indevido de informações dos seus cidadãos. Além dos diversos casos trágicos de ataques aéreos norte-americanos realizados por drones, que mataram centenas de civis em mais de cinco países do oriente.

Uma tecnologia com finalidades nobres, quando usada por entidades mal intencionadas, perdem o seu sentido original juntamente com as vítimas destas más intenções.

Reflexões

Não há como negar o grande avanço que a China obteve nos domínios da P&D de IAs, sabe investir, planejar e aplicar as suas descobertas nas áreas civis e continua a transformar sempre a indústria de base e de consumo do país.

E como potência mundial, não limitou os seus esforços na expansão da automatização do seu corpo militar, criou uma das forças militares mais artificialmente inteligentes do mundo. Possui um avanço sistema de logística de integração militar, que conecta os cinco braços militares do país: forças terrestres, aéreas, marinhas, de mísseis balísticos e a força de apoio estratégico.

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